Saúde e transporte são áreas eleitas como “menos desenvolvidas” pela população

Secretários comentam sobre melhorias para os próximos anos

Pessoas esperando na fila para agendar uma consulta com um clínico - Foto: G1 Santos

Não é de hoje que saúde e transporte dão problemas à Área Continental de São Vicente. É o que desabafa a moradora do Gleba 2, Josefa dos Santos, 60 anos. “Eu não aguento mais esperar. Duas horas para marcar consulta. Uma hora para pegar um ônibus. Quando isso vai acabar?”.

Ela é um dos moradores desta parte da Cidade que sofrem para marcar consultas, assim como o caminhoneiro Armando de Jesus, 50, que utiliza a Unidade Básica de Saúde (UBS) Samaritá. “Levanto às 6 horas, fico na fila até 8 horas para conseguir agendar uma consulta. Que absurdo é esse?”, afirma ele.

Já a auxiliar de vendas, Caroline de Oliveira, 25, utiliza a Estratégia de Saúde da Família (ESF) Gleba 2 e reclama da falta de estrutura que a unidade oferece. “Nossa, esse postinho nem é um espaço público. Na verdade, é uma casa, morava gente aqui. Isso não é certo”, diz.

O vendedor de eletrônicos, Daniel da Silva, 35, indaga: “Faltam médicos na UBS Vila Emma. Essa é a segunda vez que venho aqui, espero na fila e não consigo agendar minha consulta. Como é que fica?”.

Imagem da fachada da ESF Vila Emma - Foto: Google Imagem

“Saúde avançou duas décadas em seis meses”

Segundo a secretária de Saúde, Michelle Santos, esses são problemas que vão ficar no passado do vicentino. Somente nos primeiros seis meses do ano, a Secretaria de Saúde (Sesau) recebeu 13 médicos do Programa Mais Médicos.

Medida vem ao encontro dos pedidos da população, por mais médicos nas unidades de saúde - Reprodução

“Para nós, é um prazer receber esses profissionais que vão atuar nas unidades que mais precisam. Eles não vão preencher só uma vaga de trabalho, mas a carência de uma população que precisa de atendimento e espera ser acolhida por eles”, declara Michelle.

Já com relação às constantes filas que se formam nas unidades, a secretária afirmou que, até o fim do ano, todos os setores de saúde vão passar a operar com o sistema NUSA, com prontuário eletrônico.

Novo sistema busca reconhecer o paciente em todos os setores em que for atendido - Divulgação: Prefeitura de São Vicente

O programa será integrado ao E-SUS, informatizando o atendimento, controlando farmácia, dando acesso a receituários dos pacientes e, principalmente, marcando consultas sem sair de casa. Cada agente de saúde receberá um celular para trabalhar na busca ativa dos munícipes que não estão comparecendo na unidade para exames de rotina, vacinas em atraso, remédios disponíveis, entre outros.

“A Saúde já vinha ruim há duas décadas. Para melhorá-la e estruturá-la, é importante concentrar esforços na Atenção Básica, que é o braço mais importante”, ressalta ela.

A secretária ainda explicou as demais funções que este sistema trará ao Município, como “o faturamento de cada cidadão que utiliza o serviço, passando a ser feito automaticamente, ajudando na liberação de recursos que serão convertidos em benefícios à população que utiliza o equipamento”.

Duas unidades da Área Continental já estão operacionais (UBS/ESF Humaitá e Vila Ponte Nova) e, até dezembro, a Atenção Especializada e a Atenção Hospitalar de Urgência e Emergência da Cidade irão usufruir desse sistema, além das unidades de Atenção Básica, integralizando os serviços e colhendo informações dos pacientes atendidos, que serão encaminhadas e armazenadas no Ministério da Saúde.

Acima, a ESF Humaitá e, abaixo, a ESF Ponte Nova e Quarentenário, que já contam com o sistema NUSA

Transporte

Vai pra onde? Há ônibus da linha 202, Gleba/Divisa, em que os letreiros aparecem cortados ou simplesmente não aparecem - Foto: Nícolas Pedrosa

“Minha filha esperou por duas horas um ônibus da Cidade. Ela sai do curso às 18 horas. É perigoso. Têm lugares no Centro que, à noite, são completamente inseguros”, diz a desempregada Clementina Alves, 45. São essas e outras queixas que os moradores fazem à Otrantur Transporte e Turismo, empresa que ganhou a licitação e foi homologada a gerenciar o transporte da Cidade pelos próximos 20 anos.

Para ganhar da concorrente, São Vicente Transporte Ltda, foi preciso oferecer uma tarifa abaixo dos R$ 4 reais exigidos no edital. A mudança se deu após o Ministério Público exigir uma reestruturação no setor, que antes era gerenciado pela Cooperlotação há mais de 20 anos.

Acima, como eram os ônibus em 2019, sendo todos zero quilômetro. Abaixo, como estão os veículos hoje com mais de dez anos de uso - Fotos: Diário do Transporte e Moisés Inácio

Mas, o que era um sonho, virou pesadelo em pouco menos de um ano. Na proposta, constava que a Área Insular contaria com 168 micro-ônibus, dos quais 25% teriam ar-condicionado, divididos em 15 linhas. Já a Área Continental teria 61 ônibus básicos, todos climatizados, separados em sete linhas.

Não é isso que o estudante Jeferson de Oliveira, 25, tem visto. Ele utiliza o transporte para ir ao curso, que voltou com aulas presenciais há um mês. A diferença da qualidade e na espera por sua linha foi gritante.

“De repente, os ônibus encolheram, o ar-condicionado foi embora e o Wi-fi, que nem funcionava, sumiu de vez. O que era para ser o maior orgulho se tornou uma vergonha. Eles são tão atrapalhados que eu preferia que as lotações voltassem. Pelo menos, passava em maior quantidade”, afirma ele.

Esses são os novos veículos que estão rodando.

A aposentada Lenira Alves, 69, comentou sobre sua insatisfação com o meio de transporte do Município e cobrou posicionamento da Prefeitura. “Ninguém fala nada? Eles nos colocam em ‘latas de sardinha’, com calor, com bancos soltos, buracos na lataria. Cadê a Prefeitura que não se posiciona e cobra melhorias?”, indaga.

O que diz a Prefeitura?

Em nota, a Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Trânsito e Transportes (Setrans), informou à redação que a mudança do transporte público da Cidade se deu após o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado em novembro de 2018 entre Prefeitura e Ministério Público.

Após a conclusão de estudos, a Otrantur Transporte e Turismo venceu o processo licitatório. Dois dias após a empresa iniciar a operação, por determinação judicial a Ponte dos Barreiros foi interditada, acarretando uma reorganização estrutural, em busca de minimizar os transtornos causados aos usuários do transporte público municipal.

Depois da reabertura da ponte, meses depois, veio a pandemia, que reduziu drasticamente a quantidade de passageiros no transporte público, em função da paralisação das atividades econômicas. Desde então, o impacto da covid-19 no transporte público tem sido um grande desafio para concessionárias e prefeituras.

A Setrans explica que, em julho de 2020, a concessionária de transporte solicitou uma readequação temporária, contida no processo nº 06711/2019, solicitando a suspensão de prazo relativo ao contrato de concessão nº 62/2019, culminando em acordo na época, por ambas as partes, para suspensão da execução de 10 linhas de transporte e redução de frota proporcional, durante o prazo determinado no decreto 5192-A.

Questionado sobre ações feitas pela atual gestão sobre o transporte público, que desagradam aos moradores, o secretário de Trânsito e Transportes, Alexandre Martins, ressaltou que tem sido feito pedidos aos diretores da Otrantur para que respeitem os dispositivos constantes na licitação.

"A atual gestão da Setrans busca manter um canal de diálogo constante com a empresa em busca de soluções para as demandas apresentadas pela população. Entre elas, a reativação da linha 201 em meados de fevereiro. Houve, além disso, a cobrança para que a empresa melhore seu canal de ouvidoria, a conservação dos veículos, a disponibilização de aplicativo do transporte para acompanhamento das rotas e localização dos veículos e a divulgação dos itinerários das linhas por meio de suas redes sociais", afirma o secretário.

Procurada para comentar sobre as medidas e questionamentos contratuais, a Otrantur Transporte e Turismo não retornou até o fechamento desta matéria.