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Nas imediações dos trilhos surge o Samaritá

Esse é o primeiro bairro da região e sua povoação se deu pela estação ferroviária

Retrato do bairro Samaritá, primeiro da Área Continental - Foto: Nícolas Pedrosa e Ana Clara Pedrosa


Um bairro rodeado por vegetação natural, cenário difícil de se pensar atualmente, mas visível ao chegar no Samaritá. O local possui uma única avenida, a Teresinha, e sua extensão chega a cruzar com a antiga e desativada linha férrea. É nessa tranquilidade que vivem os moradores do primeiro bairro da Área Continental.


Mas, diferente dos outros bairros, o Samaritá seguiu um ritmo diferente no seu desenvolvimento. Por isso, ainda guarda resquícios de uma rica história, ligada intrinsicamente com a estação ferroviária instalada naquele local e, hoje, inativada.


Em 1927, ainda no governo de Júlio Prestes, fora determinada a construção de um entroncamento entre a linha férrea da Southern Railway (que ligava ao interior) e o Planalto à Sorocabana, estrada de ferro que já existia até Santos. Com isso, foi criada a “linha Juquiá”, que ligava a Capital e o litoral ao Vale do Paraíba. O marco para a construção desta obra foi justamente pela localização (a região ainda se chamava Distrito Samaritá).

As duas primeiras imagens são da estação, na época em que funcionava. A terceira retrata ela um pouco antes de ser desativada. Já a última é a situação atual - Fotos: Fepasa, Marcia do Vale e Nícolas Pedrosa


Por consequência, durante a construção da linha, as pessoas começaram a criar residências nos arredores da estação. E foi a partir daqui que as identificações com o bairro foram surgindo. O pai da dona Maria Ribeiro, 77 anos, é exemplo disso. Ele foi um dos operários da linha Juquiá e, conta ela, morar ali a fez criar laços com a região.


"Pulávamos de galho em galho, como diz o dito popular. Não tínhamos residência sólida, morávamos em acampamentos devido às obras, que avançavam rápido e, consequentemente, íamos acompanhando-a”, conta dona Maria, expressando um sorriso de satisfação.


Em 1940, dona Maria foi matriculada na finada Escola Mista de Samaritá (hoje, Escola Municipal Armindo Ramos), pois seu pai não queria que ela ficasse analfabeta. “Não havia separação de anos, era todo mundo na mesma sala, cerca de 30 alunos”. As crianças eram todas filhas de operários, que se instalavam em chalés disponibilizados pela empresa.

Hoje, dona Maria Ribeiro mora nos conhecidos "predinhos" do Samaritá - Foto: Nícolas Pedrosa

“Moro desde os meus seis anos no Samaritá. Já saí daqui para Santos, mas não deu certo. Meu lugar é aqui. Meu interior no litoral, não troco por nada”, declara dona Maria, emocionada ao reavivar sua história.


A auxiliar de vendas Rosangela Silva, 50, também concorda com dona Maria. Ela deixou Cubatão há 15 anos, onde vivia de aluguel, e veio para São Vicente. Viveu por um ano no Centro da Cidade, mas logo mudou-se para a Área Continental. “Você já viu como é calmo esse lugar? Longe do barulhento, movimentado e agitado centro. Encontrei meu lugar para descansar e me livrar do aluguel. Viva a Área Continental!”, comemora ela.


Por que Samaritá?


Historiadores afirmam que é a junção de três palavras hebraicas: Sama (desolação, abandono), Rit (espetáculo, imagem) e Áh (determinativo), formando Samaritáh, que, em tradução, significa “imagem da desolação ou o retrato da aridez, do abandono”.

Entrada do bairro Samaritá - Thinglink: Nícolas Pedrosa


Mas, a mais aceita pelos moradores é a versão contada pela dona Josefa de Alencar, 70 anos. “Eu fiquei curiosa sobre o motivo do nome e, segundo minhas pesquisas, um grupo de monges atuava na região antigamente e um deles era conhecido por ser bondoso, daí recebeu o apelido de bom samaritano. Seus outros companheiros batizaram o lugar onde ficavam de Samaritá, como forma de homenageá-lo”.


A igrejinha do Samaritá


“Eu os declaro marido e mulher”. Essa foi a frase que ecoou na Igreja de Santa Teresinha em 1980. Quem casou foi dona Iracema Siqueira, 63, residente há 60 anos.

Fachada da Igrejinha do Samaritá, de pé até hoje, com suas missas todo domingo e encontro de alcoólicos anônimos, para ajudar na recuperação de viciados - Foto: Nícolas Pedrosa

“Conheci meu futuro esposo no bairro, fomos criados juntos, desde pequenos. Quando éramos adolescentes, comecei a ‘encher a cabeça dele’ e, assim, namoramos. Dois anos depois, resolvemos nos casar”, conta, emocionada.


A igreja foi criada em 1972, substituindo uma pequena edificação destinada à Santa Teresinha, padroeira das missões. Quem mais incentivou a construção foi a irmã Maria Alberta, que lutou para angariar fundos para erguer o espaço.

Lateral da igreja, com vista para um terreno usado pela criançada para jogar futebol - Foto: Ana Clara Pedrosa

“Não só me casei, como fiz minhas bodas de prata nesse lugarzinho aconchegante, isso em 2005”, comenta dona Iracema. “Obrigado igrejinha, moradores e Deus. Se sou feliz, foi porque vim morar aqui no Samaritá. O destino nos reserva coisas boas e eu ganhei o meu presente”, diz ela, em lágrimas.


Por: Nícolas Pedrosa

 
 
 

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